Subsetor da cana-de-açúcar tem bons resultados, enquanto trabalhadores não tem reajuste salarial

0

De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio pode crescer até 3% em 2020.

 

As usinas de cana-de-açúcar, sobretudo da região Centro-Sul do Brasil, vêm tendo bons resultados em relação a produção e lucros, com ótimos resultados em relação as exportações. Por outro lada, os trabalhadores do subsetor enfrentam a dura realidade de não obter reajustes salariais.

As empresas estão fechando acordos coletivos de trabalho (ACT), com a clausula de reajuste salarial zerada, ou seja, nem a inflação do período está sendo considerada, o que diminui o poder de compra dos trabalhadores e aumenta a desigualdade de renda. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), considerado para reajuste salarial, fechou em 2,35% no mês de julho, acumulado dos últimos 12 meses.

A argumentação das empresas para não fazer os reajustes, são os problemas financeiros causados em decorrência da pandemia do coronavírus (Covid-19). Entretanto, os indicadores econômicos e financeiros de boa parte das empresas, mostram o bom resultado em favor das usinas e grupos do subsetor sucroenergético.

Principais Resultados

De acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA), em relatório para os 15 primeiros dias de julho, “a quantidade de cana-de-açúcar processada pelas usinas e destilarias do Centro-Sul totalizou 46,54 milhões de toneladas nos primeiros 15 dias de julho de 2020. Esse resultado é 13,52% superior daquele observado na mesma quinzena da safra 2019/2020, quando foram moídas 41,00 milhões de toneladas”. Para mais que isso, do acumulado desde o inicio da safra até meados de julho de 2020, a moagem superou os 275 milhões de toneladas, aumento de 6,52% em relação ao mesmo período da safra passada.

Em relação a produção de açúcar, houve aumento de 23,34% nos últimos 15 dias de junho, as usinas compensaram a queda do consumo de etanol em decorrência da quarentena. Mesmo assim, a região Sudeste, registrou recuperação dos preços dos combustíveis nos primeiros 15 dias de julho, houve incremento de 2,53% nos preços do etanol, passou de R$3,128 para R$3,207, segundo o Índice de Preços Ticket Log (IPTL).

Exportações

As exportações de açúcar tiveram aumento de 91,5% em julho (3,487 milhões de toneladas.), de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do ministério da Economia, o destino principal foi o continente asiático. O que fez com que a commodity mais uma vez contribuísse para a balança comercial brasileira. Além disso, com o câmbio alto, as usinas se favoreceram de forma considerável, a moeda internacional, o dólar, está na faixa dos R$5,25 (05 de agosto).

Ebitda – Biosev

o Ebitda representa a geração operacional de caixa da companhia, ou seja, o quanto a empresa gera de recursos apenas em suas atividades operacionais, sem levar em consideração os efeitos financeiros e de impostos. É um dos principais indicadores para a avaliação da “saúde” financeira das empresas.

Na última safra 2019/20, a Biosev, atingiu R$1,8 bilhões no Ebitda ajustado, um crescimento de 12,9% em relação ao mesmo período da safra anterior. A companhia investiu R$ 1,2 bilhão, o que representa um aumento de 7,7% em relação à temporada passada, segundo o relatório financeiro da empresa, com divulgação no portal JORNAL CANA.

Receita Liquida – Raízen

De acordo com o portal NOVA CANA, com base no balanço financeiro do grupo, “a receita líquida da Raízen Energia totalizou 9 bilhões de reais no primeiro trimestre do ano, aumento de 26% ante igual período de 2019. Na safra de 2019/20, encerrada em março, a receita aumentou 37%, para 30,7 bilhões de reais”.

Trabalhadores assalariados rurais sem reajustes salariais no subsetor

A FERAESP, através do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) das principais usinas de cana-de-açúcar do Estado de São Paulo, no sistema mediador, do ministério da Economia, captou 8 acordos coletivos de trabalho (ACT) com a clausula de reajuste salarial zerada.

As empresas e sindicatos, com base na argumentação dos prejuízos da pandemia, fecharam os acordos sem reajuste salarial (zero). O escopo argumentativo para tal penúria aos trabalhadores, teve base na LEI 10.192, de 14/02/2001, artigos 10 e 13 parágrafos segundo. A Lei diz que, “os salários dos empregados não serão corrigidos, por força da livre negociação entre as partes, facultada pela legislação salarial em vigência”.

Vale destacar que, muitas empresas e sindicatos, não disponibilizam os acordos no sistema mediador, mesmo já assinado pelas partes, isso significa que pode haver muito mais acordos no Estado sem reajustes salariais. ACT´S de outras categorias, como químicos e indústria foram identificados com a mesma problemática aos trabalhadores nos CNPJ´S pesquisados.

ACT´S sem reajuste salarial aos trabalhadores assalariados rurais:

Número de registro: SP004553/2020

Número de registro: SP003247/2020

Número de registro: SP003365/2020

Número de registro: SP003585/2020

Número de registro: SP004316/2020

Número de registro: SP004046/2020

Número de registro: SP003796/2020

Número de registro: SP005265/2020

 

Posição da FERAESP

Segundo Jotalune Dias dos Santos (Jota), presidente da FERAESP, “os sindicatos que aceitam tais acordos, sem reajuste salarial, trabalham em beneficio apenas das usinas e ajudam a acentuar a desigualdade de renda e a precarização do trabalho. A posição da FERAESP é de combate a clausulas como esta que prejudica a vida dos trabalhadores, ainda mais porque, o setor do agronegócio e por consequência o subsetor da cana-de-açúcar, devem crescer neste ano de tantas dificuldades para os trabalhadores”.